Os " E se...?" da vida

Foi ontem à tarde, praia de Carcavelos, apinhada de gente. Chegámos desejosos de descansar um pouco, a Bi estava ansiosa de tirar as formas da sua mochilinha e começar a criar castelos de areia, o Miguel absorvia tudo o que o rodeava. A hora do lanche chegou depressa, até porque deixamos passar as horas de maior calor. Fui buscar gelados para os três. Lembro-me de pensar que estava muita confusão, muito barulho, as pessoas pareciam-me agitadas. Comprei os gelados. Ouço gritos. Quando volto à areia está toda a gente em pé virada para cima. Algo de grave se passava, sem dúvida. Ouço as botas de dezenas e dezenas de polícias a descer a encosta. Olho para o lado e vejo a polícia de intervenção, a polícia de choque, a PSP e a polícia marítima a fazerem fileiras com armas nos braços, prontos para entrar para a areia. Vou ter com o Jorge e com os meus meninos. Ninguém sabe o que se passa. Entretanto, vejo mini-gangs entre as pessoas, a passarem despercebidos enquanto as pessoas olhavam para o aparato policial...eram miúdos nos seus 16 anos e olhavam para as carteiras enquanto passavam sorreiteiramente entre as toalhas. A Bi continuava a brincar. Olhei para ela, olhei para o Miguel e disse: " Jorge, vamos embora agora! Não vamos esperar nem mais um minuto!" Viemos embora, ficamos um tempão nas filas de carros e ainda deu para ver os problemas que os gangs estavam a causar na estação da CP de Carcavelos. Entretanto, o meu pai telefona-me. Está a ver a SIC Notícias e está preocupado. É ele que me informa dos promenores do que realmente se passou. Chegamos a casa sãos e salvos. Toda a minha vida senti-me protegida por uma força superior, toda a minha vida não me preocupei em confirmar a cada minuto se estou em segurança, mas ontem ao olhar para os meus filhos, senti o perigo muito perto. E tive medo. Medo que alguma coisa lhes acontecesse. No caminho para casa, vieram à minha cabeça tantas perguntas: " E se eu tivesse perdido a Bi como aconteceu a tantas crianças que lá estavam?"; " E se um dos meus filhos fosse apanhado no meio dos confrontos?"; " E se alguma coisa de grave acontecesse a mim ou ao Jorge?". Ontem, mais uma vez vi o perigo bem de perto e mais uma vez nada de mal nos aconteceu. À noite, quando os nossos meninos estavam a dormir estive a observá-los...suspirei, sorri e esqueci-me dos meus "E se...?". Deitei-me, abracei o Jorge num abraço muito forte e mesmo antes de adormecer lembro-me de ter pensado: " Que caminho leva o nosso país?"